Resenha de “Redoma”, de Meg Wolitzer.

Um livro inspira o outro. Na literatura, é fácil encontrar referência aos clássicos, seja implícita ou não. E os velhos clichês, sempre presentes. Mas não é por isso que um enredo mesmo carregado de referências e clichês não seja original ou único. Meg Wolitzer conseguiu criar algo novo com a temática jovem em seu livro “Redoma.”

ENREDO

“Redoma” conta a história da enlutada Jamaica “Jam” Gallahue, que a após a precoce morte de seu namorado Reeve Maxfield, entra numa depressão tão profunda que afeta seu rendimento escolar e social. Preocupados com sua saúde mental, seus pais a matriculam no “Celeiro”, um colégio no formato de internato para jovens inteligentes, mas “fragilizados”, no eufemismo, ou como se denominam na cara dura: traumatizados. Jam, fragilizada por sua perda, não se anima muito em participar da rotina da nova escola ou se socializar com sua colega de quarto, DJ, até descobrir que foi matriculada na misteriosa turma de Tópicos Especiais em Inglês, destinada a apenas a um seleto grupo de alunos, que não sabem como foram escolhidos para essa aula, ministrada pela enigmática professora de inglês Sra. Quenell. Junta a mais quatro jovens, também traumatizados pelo passado, Jam tem que estudar a obra de Sylvia Plath, escritora americana que tirou sua própria vida e autora do livro “Redoma de Vidro” e como tarefa de casa, recebe um diário em que tem de escrever tudo que a aflige. Mas logo Jam e seu novos colegas de classe irão descobrir que seus diários vão muito além de um simples caderno de notas.

Livro extraclasse de Tópicos Especas em Inglês em que Jam e seus amigos devem ler e escrever diários como a personagem do livro.

NARRATIVA

Como o gênero do livro é Jovem, temos o desenrolar de “Redoma” contado em primeira pessoa por Jam, que possui a linguagem típica de sua idade e estado emocional: melancólica e descontraída, mas sem papas na língua, temos linguajar forte e palavrões. A narrativa do livro é intensa e com lacunas, o que obriga o leitor a querer avançar cada vez mais fundo na história para descobrir como Jam perdeu Reeve e o que atormenta seus novos colegas do “Celeiro”.

DESTAQUE

O legal de ler histórias que fazem referências a outras é descobrir clássicos que até então nunca tínhamos ouvido falar. Sylvia Plath realmente existiu e teve um fim trágico e seu livro semiautobiográfico Redoma de Vidro é considerado um clássico da literatura norte americana, juntamente com seus poemas que são lembrados até hoje. Ao terminar de ler “Redoma”, a vontade que dá é colocar Redoma de Vidro e os demais poemas de Sylvia na lista de leitura!

Sylvia Plath, autora de A Redoma de Vidro que inspirou Redoma. Tirou sua própria vida em 1963, dentro da própria casa.

MINHA OPINIÃO

Ao ver que “Redoma” é considerado um livro do gênero Jovem, fiquei intrigada com seu enredo, pois achava que seria mais uma daquelas histórias de adolescência com protagonistas tendo suas crises existências, mas resolvi aceitar o desafio de lê-lo e acabei me surpreendendo. Não que o livro não tenha adolescentes com crises existências, mas seus traumas são bem reais e descritos de forma bem humana, o que nos faz ter empatia com os personagens. Os estudantes do “Celeiro” são tratados como frágeis e cheios de panos por todo corpo discente, menos pela Sra. Quenell que assim como os diários de Jam e seus colegas de classe, é o uma incógnita que não dá para descansar até desvendar o que realmente é. “Redoma” vai muito além de um livro jovem, é um romance intenso com um leve quê de suspense e sobrenatural que prende a leitura do início ao fim.

Meg Wolitzer nos mostra que os jovens podem ser mais frágeis para aguentar certos traumas da vida, como perder um namorado, ter um irmão desaparecido, a separação dramática dos pais, ter a casa incendiada ou ficar paraplégico, mas que nem por isso devem ser tratados como se fossem feitos de vidro, que podem quebrar ao menor toque. Só “se quebra” quem guarda a mágoa dentro do peito, por isso é importante ter alguém com quem abrir e compartilhar a própria dor e algum lugar em que possa desabafar, mesmo que seja um diário. O que importa é ter o mal que aflige a mente estripado, ou irá se sucumbir dentro da própria “redoma”.

“Redoma” é um livro com uma temática séria que aborda assuntos que podem ser pesados, mas que estão presentes na vida de todos os jovens e que não se pode ser alheio ou insensível a eles. Um enredo que tem lá os seus clichês, mas que possui um final surpreendente e imprevisível.

SINOPSE OFICIAL

Se a vida fosse justa, Jam Gallahue estaria vivendo sua vida tranquila em Nova Jersey, assistindo a séries e abraçando seu namorado, Reeve Maxfield. Ela não estaria infeliz e sem vontade de se levantar da cama, nem estaria em um internato para adolescentes “emocionalmente frágeis”. Mas a vida não é justa, Jam perdeu seu primeiro amor e está completamente perdida.

A mudança de escola parece a única possibilidade de recuperação para a garota, que passou quase um ano mergulhada em tristeza. No entanto, ela odeia a nova rotina e decide levar tudo com o menor esforço possível. Por isso, Jam fica surpresa quando descobre que foi selecionada para a exclusiva e lendária aula de “Tópicos Especiais em Inglês”, da misteriosa Sra. Quenell.

A turma tem mais quatro estudantes, todos com histórico de traumas ainda piores que os de Jam. Mesmo assim, a professora parece não se importar com a fragilidade de seus alunos quando escolhe o livro que trabalhará durante o semestre: A redoma de vidro, de Sylvia Plath. O romance, que narra a série de eventos que levariam a estudante Esther Greenwood a um colapso nervoso, parece a opção mais improvável, para adolescentes que ainda estão superando experiências difíceis.

Além das discussões sobre o livro, cada aluno tem a tarefa de escrever em um diário entregue pela professora. E é esse trabalho que leva Jam e seus amigos desajustados à Redoma, um lugar misterioso onde o passado pode ser revivido, e cada um dos alunos pode rever sua vida antes do momento traumático que levou ao internato.

Repleto de referências ao clássico de Sylvia Plath, Redoma é um romance sobre o primeiro amor, o sofrimento, o amadurecimento e os problemas de aceitação na adolescência. É também uma história sobre como a amizade pode ajudar a superar os piores traumas da vida.