Enredo:
A história começa no presente (isto é, no tempo do livro) quando o herói de guerra e ilustre irmão da Sexta Ordem, Vaelin Al Sorna, também conhecido por seus inimigos como “Matador do Esperança”, é levado como para um julgamento de combate, onde deve entrar em duelo mortal para ser julgado pelos seus “crimes” e levar justiça para os familiares e amigos das pessoas que matou. Quem o acompanha é Verniers, um famoso cronista imperial que guarda um profundo rancor de Vaelin, que foi o responsável pela morte de seu amigo e herdeiro do império, o “Esperança”.
Enquanto aguarda seu destino terrível com serenidade, Vaelin resolve contar a Verniers toda a sua trajetória de vida até chegar na situação atual. Por mais revoltado que estivesse com a presença do “Matador do Esperança”, Verniers não consegue conter a fascinação pela história do selvagem. Vaelin conta como foi abandonado ainda criança pelo seu pai, o Senhor da Batalha e homem de confiança de seu reino, na misteriosa Sexta Ordem logo após a morte de sua mãe. De como passou por duros treinamentos com mestres severos e por provações cruéis parar ser tornar um guerreiro mortal. Como conheceu seus amigos que virariam seus fies irmãos de ordem. Seu envolvimentos em tramas políticos, assassinatos e guerras por poder, sendo reconhecido pela sua força, liderança e astúcia até chegar aonde chegou.
Mas Valien não conta tudo. Traições e uma paixão secreta ficam de fora os pergaminhos de Verniers. Mas a sua principal carta na manga, seu dom extraordinário, sua Canção de Sangue, fica bem escondida dos ouvidos atentos do cronista.
Narrativa
O livro é dividido em cinco partes, cada uma começa pelo Relato de Verniers, em que o cronista conta em primeira pessoa sua viagem ao lado do Matador de Esperança, onde no começo tem uma visão muito negativa e rancorosa de Vaelin, mas que aos poucos sua opinião sobre o estrangeiro vai mudando. Os capítulos seguintes são a visão de Vaelin, narrados em terceira pessoa, desde de criança até adulto.
Destaque
Uma característica crucial de um bom romance fantástico é a capacidade do autor de criar um universo único, tão rico em detalhes que dá vontade ao leitor de explorar cada canto desse mundo. Anthony Ryan criou uma história complexa e única, mas que de tão complexa, confunde muito a cabeça de quem ler. Mas é até uma confusão boa. Já explico.
Minha Opinião
“A Canção de Sangue”, primeiro livro da trilogia “A Sombra do Corvo”, tem um começo não linear, que se passa no presente em que Vaelin Al Sorna, está sendo levado para um julgamento de combate, isto é, um duelo mortal que funcionava como julgamento: vencer é se livrar da culpa, perder é pagar com o próprio sangue pelos crimes que cometeu. Apesar disso, Vaelin, um homem ainda jovem, mas com grande fama de guerreiro sangue frio e mortal, está calmo diante do seu destino. Isso irrita profundamente Verniers, o cronista imperial que o acompanha na viagem para relatar todos os acontecimentos. O escritor sente um ódio profundo por Vaelin, que matou seu melhor amigo e herdeiro do império a quem pertence, mas ao mesmo tempo, se morde de curiosidade sobre a vida desse homem misterioso e lendário. É quando o Matador do Esperança revolve contar tudo o que viveu até ali, em partes, para o curioso cronista imperial.
Aos 12 anos de idade, Vaelin perde a sua mãe, a quem era muito apegado, para uma doença fatal. O garoto nem tem tempo para chorar sua morte quando seu pai, um homem de origem humilde que virou homem de confiança e Senhor da Batalha, o leva até a sede da Sexta Ordem, para ser treinado como um guerreiro. O que é essa tal de Sexta Ordem? Pois é, é aí onde a minha cabeça começou a dar nós. O que dá para entender é que essa Ordem treina garotos de várias origens para virarem guerreiros e assassinos mortais e eficientes, que defendem a Fé. Fé? Isso. Seria a religião no reino em que se passa a história. Em todo o livro, não há muitos detalhes sobre a origem dessa religião ou do reino em si, o que entendemos ao decorrer da leitura é que há seis ordens, originalmente, sete. A Sexta, a que Vaelin pertence, forma guerreiros. As Quinta, forma curandeiros. A Quarta persegue todas as pessoas que não acreditam na Fé, os chamados Negadores. A Terceira, pouco citada, é dos historiadores. E a Sétima, que foi destruída a mando das demais ordens, tudo indica que é ligada a rituais obscuros e ao misticismo. Essa última deve ser mais aprofundada nos próximos livros, é uma das várias pontas soltas deixadas no primeiro volume.
Os líderes de cada ordem são conhecidos como Aspectos, ou seja, cada ordem é a representação de um aspecto, característica da tal Fé. Ao ser apresentado ao seu Aspecto, mestres e colegas de ordem, tem início ao duro treinamento que Vaelin vai passar por longos anos. Enquanto apanha de seus mestres toda vez que erra, o garoto se pergunta por que seu pai, que nunca foi próximo a ele, o abandonou naquele lugar sem mais nem menos. Ao entrar na ordem, cada membro abre mão de sua família e tem que se manter casto: a ordem é sua única família e seus companheiros são seus irmãos. Com isso em mente e cheio de rancor, Vaelin nega seu pai de sangue e aos poucos vai abraçando os preceitos da Sexta Ordem. Ele logo se destaca entre os demais, se mostrando um bom espadachim e possuindo muita força e resistência física, além de um talento para liderança.
Apesar de Vaelin ser muito talentoso e carismático, ele não é o único noviço que se destaca. Isso é bom, pois não centra a trama no personagem principal. Nortah, que se torna seu melhor amigo, é o melhor em combate a cavalo e também é o segundo na liderança; Dentos é melhor com o arco e com facas de arremesso, embora rivalize com Nortah nessa habilidade. Barkus tem mais habilidades em combate corpo-a-corpo é o que tem mais força física, além de ser um talentoso ferreiro. Caenis é especialista em furtividade e em natureza. E por último, temos Frentis, um garoto de rua que é salvo por Vaelin, que o apadrinha na ordem. Ele se revela habilidoso e leal, mas é o alívio cômico do grupo. Isso é bom, pois descentraliza o personagem principal, tirando aquela famosa “síndrome do protagonismo”, que quando muito exagerada, tornar o protagonista enjoativo e, em efeito bola de neve, a história. Vaelin por si é um ótimo personagem, mais com seus irmãos de ordem também são ótimos personagens, dando muito equilíbrio a história.
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Outros personagens que valem a pena citar é o Rei Janus, um homem ambicioso que sempre teve planos envolvendo Vaelin desde que este era criança, usando e abusando de suas habilidades e de seus princípios nobres. Sua filha, a Princesa Lyrna, consegue ser mais maquiavélica que seu pai, uma garota ambiciosa que não mede esforços para conseguir o que quer. E temos também a Irmã Sherin, da Quinta Ordem, uma curandeira prodígio e interesse amoroso de Vaelin.
O que destaca o livro em questão ao seu universo expansivo, também é um defeito. Ryan nos apresenta um enredo que envolve seitas religiosa, guerras, tramoias políticas, lendas e magias, que mesmo sendo vários detalhes, são complexos demais para se entender numa topada só. Em nenhum momento, o autor dá uma pausa para explicar em que tempo a história se passa, informações sobre os reinos, impérios e povos que aparecem no livro, como suas origens e fronteiras ou até mesmo as Ordens. Lendo o livro dá para ter uma ideia do que cada exemplo que citei se trata, mais mesmo assim, não informações presas. Como a Fé, por exemplo. Lendo, temos a noção que não se trata de uma religião que idolatra Deuses, mas sim o indivíduo em si, se tornando uma religião mais pragmática. Mas em relação as Ordens dessa Fé, nem mesmo a Primeira e Segunda Ordem são citadas, então não temos a menor ideia do que se tratam. E a Sétima Ordem? É dos grandes mistérios que o livro deixa solto. Uma das partes mais tensas do livro é quando Vaelin e seu irmãos precisam resgatar Frentis de um vilão que de algum modo pertence a essa ordem, mais depois que a treta termina, essa incógnita é deixada de lado. Vaelin até tenta investigar Sétima Ordem, mas a guerra e a politicagem do Rei Janus o desviam desse mistério. Talvez nos próximos livros, o autor volte a abordar esse tema.
O maior mistério que envolve a história é a “canção” de Vaelin, que funciona mais ou menos como um sexto sentido: ele consegue pressentir perigos, antecipar golpes de um adversário e “ler” pessoas, saber se estão mentindo ou tramando algo. No início, parece apenas que ele é um guerreiro com um talento bem acima da média. Mas aos poucos, vemos que essas suas habilidades são sobrenaturais. Vaelin descobre que ele não é o único a ter uma canção e encontra outros personagens que também a possuem, mas que já sabem manipulá-la bem. Mas Vaelin se recusa a usar esse dom, pois vai de contra a sua crença na Fé. Porém, ele aprende que precisa controlar sua “canção”, se deseja sobreviver. Apesar de Vaelin contar sua história a Verniers, ele omite muitas partes, entre elas, o seu dom, deixando o relato do cronista com furos, o que deixa homem confuso. Mas pelo ponto de vista de Vaelin, nós temos acesso a todos os detalhes de sua história.
O ritmo da história não é exatamente linear. Num momento, você acompanha os duros treinamentos de Vaelin, depois, ele se envolve com uma Negadora que apresenta um dom estranho (outro mistério do livro), de uma hora para outra, ele está no meio de extra tema político e tem que treinar e liderar um exército e depois tomar o controle de uma cidade. Mas não é o desenrolar dos fatos que confundem e sim a quantidade de detalhes atrelados a eles. No começo é muito fácil se confundir na história. Eu sempre tive o habito de ler vários livros simultaneamente, isso nunca me incomodou. Mas para ler a “Canção de Sangue”, tive que deixar de lado outros livros para conseguir me concentrar apenas nesse. E são 634 páginas… levei meses para ler. A ocupação com meu estágio e faculdade também me tiravam tempo de leitura. Então a primeira dica que dou é: esse livro não é nem de longe uma leitura rápida e tranquila de se fazer. É melhor para ler em um bom período de férias (Ai, Senhor, preciso tanto… #Chorando), onde tem tempo de sobra para se dedicar a esse livrão.
Para quem gosta de fantasia, guerra, dramas políticos e mistério, esse livro é um prato cheio. Um pouco confuso no começo, mas assim que pega o ritmo da história, o enredo fica envolvente e prende o leitor. Da trilogia “Sombra do Corvo”, apenas os dois primeiros livros estão disponíveis no Brasil, mas já se tornou uma série que quero acompanhar do começo ao fim!
Sinopse Oficial
Quando Vaelin Al Sorna, um garoto de apenas 10 anos de idade, é deixado por seu pai na Casa da Sexta Ordem, ele é informado que sua única família agora é a Ordem. Durante vários anos ele é treinado de forma brutal e austera, além de ser condicionado a uma vida perigosa e celibatária. Mesmo assim, Vaelin resiste e torna-se líder entre seus Irmãos. Ao longo de sua jornada, Vaelin também descobrirá de quem foi o verdadeiro desejo para que ele fosse entregue à Ordem – o objetivo sempre foi protegê-lo, mas ele não tem ideia do quê. Aos poucos, indícios de uma esquecida Sétima Ordem e questões acerca das ações do Rei Janus fazem Vaelin Al Sorna questionar sua lealdade. Destinado a um futuro grandioso, ele ainda tem que compreender em quem confiar. Neste primeiro volume da trilogia A Sombra do Corvo, Anthony Ryan estreia de maneira promissora com uma aventura repleta de ação.
Ficha Técnica
Páginas: 656
ISBN: 9788544100790
1.ª edição: 2014-10-01
Preço (sugerido): R$ 59,90
Resenha maravilhosa Tainá.
Eu fui no evento em que a Leya falou sobre esse livro e desde lá fiquei interessado.
Excelente resenha Guria!
Adorei a resenha, Tai!!
Amei a resenha, parabéns